Como lodo de esgoto se transforma em fertilizante natural usado por produtores rurais no estado de SP
15/09/2025
(Foto: Reprodução) Como compostagem transforma esgoto em fertilizante usado por produtores rurais em SP
Um fertilizante orgânico feito com lodo de esgoto do aterro de lixo de Paulínia (SP) é usado em plantações de produtores rurais de nove cidades das regiões de Campinas (SP) e Piracicaba (SP).
O fertilizante é obtido a partir de uma técnica de compostagem que aproveita os dejetos do aterro da cidade e os une à madeira de carvalho fragmentada.
➡️ O lodo é um resíduo rico em matéria orgânica produzido durante o processo de tratamento do esgoto. Normalmente, o componente é descartado em aterros sanitários, onde se junta a todo tipo de lixo. Além dos problemas ambientais, o descarte também é caro para as estações de tratamento.
A produtora rural Mariangêla Storani tem plantações de café orgânico em Vinhedo (SP) e Jundiaí (SP) e não usa adubo químico há oito anos. O uso do fertilizante de lodo tem gerado resultado positivo, segundo ela.
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"Eu fiz a análise de terra há um mês, no Instituto Agronômico de Campinas, e mesmo sem usar adubo químico nenhum, a minha terra está bem saudável, e os pés produziram bem", explica a produtora.
Produtores rurais usam fertilizante a partir de lodo de esgoto tratado no aterro de Paulínia (SP)
Mariangêla Storani
O Ecoparque de Paulínia, estação que produz o fertilizante dentro do aterro da cidade, aponta que 113 agricultores de 40 cidades no estado de São Paulo usam o produto em larga escala. Entre elas, as nove da região:
Artur Nogueira
Campinas
Capivari
Cosmópolis
Indaiatuba
Limeira
Louveira
Valinhos
Vinhedo
Produtores rurais usam fertilizante a partir de lodo de esgoto tratado no aterro de Paulínia
Divulgação/Orizon
A tecnologia de transformar lodo de tratamento de esgoto em fertilizante orgânico já foi alvo de pesquisas. A Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq-USP) mostrou que o processo de secagem do resíduo aumentava a vida útil dos aterros sanitários.
Rafael de Farias Nascimento, especialista em compostagem na Orizon Valorização de Resíduos, companhia que produz o fertilizante no Ecoparque, defende que, além de atender produtores de orgânicos, o insumo gera economia cíclica, já que os dejetos são reutilizados e voltam a ser nutrientes.
"A gente consegue finalizar um ciclo. O que foi uma planta um dia volta a ser um nutriente através de um fertilizante. A gente consegue fechar exatamente aquele ciclo produtivo do nutriente", explica Rafael.
Como o fertilizante é feito?
Apesar de levar o mesmo nome, a compostagem usada na fabricação do fertilizante é mais complexa que a praticada por quem possui composteiras em casa, já que esse segundo processo é puramente biológico e forma um adubo a partir da reciclagem matéria orgânica, como restos de alimentos.
🚯 Na compostagem para criar a fertilização, a massa do lodo passa por uma homogeneização e é misturada com outra matéria-prima, o carvalho, e em seguida, é deixada descansando sob exposição do oxigênio.
"Eu tenho dutos que sopra ar lá dentro [onde está o lodo]. É esse ar que vai suprir o oxigênio desses micro-organismos, e então, durante um período entre 30, 40, às vezes até 60 dias. O padrão é 45 dias. A massa fica parada, é onde acontece a compostagem. É um processo natural, o que a gente faz é acelerar", explica o especialista em compostagem.
O especialista explica que a produção do fertilizante também passa por descontaminação em que o lodo é exposto a temperaturas de até 80 °C. "O lodo vem da estação de tratamento, e já vem um pouco tratado. Quando chega aqui, ele é higienizado pelo processo térmico", diz.
"Nessa temperatura, todos os patógenos, ovos de helmintos [vermes], todos os que fazem doença para o ser humano, eles são praticamente zerados. Então, todo o lodo, todo o produto final, ele é higienizado", garante.
Produtores rurais usam fertilizante a partir de lodo de esgoto tratado no aterro de Paulínia
Divulgação/Orizon
"Então, por isso que, no final, a gente tem a certificação que é um fertilizante seguro de uso na agricultura, que ele é livre de qualquer doença, tanto de humanos, quanto para plantas também", explica.
Desconfiança inicial
Lodo gerado no tratamento de esgoto em Piracicaba é transformado em fertilizante
Segundo Nascimento, o uso de dejetos de suínos e galinhas como fertilizantes já era comum, então alguns produtores não olharam a ideia com estranheza, mas outros demonstraram receio com a proposta.
Ele garante, no entanto, que a conversa sobre os benefícios do fertilizante tem desmistificado. "O fertilizante pode ser utilizado em todo tipo de cultura: cultura de cana-de-açúcar, cultura de cítricos."
"O que mais utiliza o nosso fertilizante hoje é a cultura de cana-de-açúcar e a cultura de banana, que é uma cultura que utiliza muito o fertilizante orgânico, então, é o nosso maior mercado consumidor", explica.
Mariangêla Storani conta que pesquisou antes de fazer a primeira compra. Ela adotou a opção orgânica nos quatro alqueires com 40 mil pés de café em Vinhedo nos 150 mil em 10 alqueires em Jundiaí.
"Eu pesquisei bastante. Pensei que vai que contamina o fruto, e eu vou contaminar quem tá trabalhando. Mas eu olhei e vi que é muito seguro, não tem problema nenhum, não tem contaminação nenhuma. Tanto que ele nem cheiro tem", diz a produtora de café.
Além disso, ela sentiu uma diferença no gasto: usando o fertilizante orgânico vindo de dejetos, ela gastou cerca de R$ 8 mil reais em uma safra.
Com fertilizantes químicos, ela afirma que o gasto pode chegar até R$ 35 mil. "A diferença é R$ 215 a tonelada", finaliza.
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