Pianista do interior de SP conquista bolsa de pesquisa em universidade na Califórnia: ‘Me sinto muito preparada’
15/09/2025
(Foto: Reprodução) Pianista do interior de SP conquista bolsa de pesquisa em universidade na Califórnia
A pianista Lorraine Gregório de Oliveira, de 27 anos, deixou Torre de Pedra (SP) para estudar música contemporânea em San Diego, na Califórnia (EUA), a 9,9 mil quilômetros de casa. Ela conquistou uma bolsa de pesquisa e vai permanecer no país por até cinco anos.
Ao g1, Lorraine contou que o apoio da família e dos amigos foi essencial para encarar o desafio. “Me sinto muito preparada”, disse.
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Após mais de 15 horas de viagem, ela desembarcou nos Estados Unidos na sexta-feira (5). A adaptação ao fuso horário tem sido a parte mais difícil, já que a diferença em relação a São Paulo é de quatro horas. “Nunca viajei para tão longe. Já tinha ido ao Chile com meus pais, mas essa foi a minha viagem mais longa.”
Mesmo com poucos dias em San Diego, Lorraine afirmou que o clima lembra o do Brasil. Já a língua, a cultura e a alimentação têm exigido mais adaptação, além da construção de uma nova rotina. “Sinto saudades principalmente das pessoas que amo, minha família, amigos e meus gatinhos.”
O doutorado tem duração de cinco anos, mas pode ser concluído em quatro, dependendo da carga horária. A pianista vai continuar pesquisando música contemporânea, piano preparado e técnicas estendidas. Também deve montar um repertório de obras, realizar parcerias com compositores e investir em improvisações.
Musicista de Torre de Pedra (SP) conquista bolsa de estudos na Califórnia
Arquivo pessoal/Lorraine Gregório de Oliveira
Antes do resultado, Lorraine contou que teve insegurança, já que eram poucas vagas para instrumentistas. Ela acredita que o currículo compatível com o perfil da universidade foi decisivo para a aprovação.
A oportunidade surgiu durante o mestrado, quando ela começou a se interessar em aprofundar a pesquisa. No Brasil, teria que apresentar uma tese ao fim do curso, mas Lorraine queria manter a performance como foco. Por isso, buscou alternativas no exterior.
Professores recomendaram a Universidade da Califórnia, em San Diego, reconhecida pela tradição em música contemporânea. O processo de aplicação, no fim de novembro de 2024, envolveu carta de intenção, recomendações, teste de inglês e envio de documentos.
A resposta chegou em março, após três meses de espera. Além da aprovação, Lorraine recebeu uma bolsa de pesquisa e a chance de trabalhar vinculada à universidade. “Fiquei muito feliz, pois além de ser uma universidade prestigiada, eu também teria a oportunidade de trabalhar na minha área e aperfeiçoar a prática pianística. Vou aprender com professores e alunos de todos os lugares do mundo”, disse.
Apesar da felicidade, Lorraine contou que também sentiu medo ao pensar na mudança de vida e na distância da família. “Por isso, o apoio da minha família, amigos e professores foi essencial para que eu enfrentasse as incertezas e começasse esse novo projeto.”
Lorraine também já fez parte do Conservatório de Tatuí (SP)
Arquivo pessoal/Lorraine Gregório de Oliveira
Lorraine compartilhou que sua aprovação pode representar que há muitas escolhas de carreira na vida, e não necessariamente, elas precisam se restringir à uma só coisa. Ela relatou que as pessoas costumam ficar limitadas às possibilidades de um só contexto, mas que se expandir o olhar, outras oportunidades podem se apresentar. “Me sinto muito preparada e amparada pela rede de apoio que construí no Brasil. Sem o amor, carinho, suporte e incentivo dessas pessoas, eu acho que provavelmente nem teria me aplicado”.
A trajetória de Lorraine até a Califórnia
O primeiro contato de Lorraine com a música foi através de seu pai
Arquivo pessoal/Lorraine Gregório de Oliveira
A relação de Lorraine com a música começou ainda na infância, ao assistir a uma apresentação do pai, que fazia parte de uma escola de música. Ele sempre a incentivou a seguir na área, mas o interesse só surgiu quando a pianista viu outras crianças no palco e pensou que também poderia tocar.
Dois anos depois, a professora recomendou que ela ingressasse no Conservatório de Tatuí, reconhecendo sua aptidão. Lorraine ficou dois anos no conservatório e, em seguida, iniciou a graduação em música na Universidade Estadual Paulista (Unesp). Na época, dava aulas de piano e ainda tinha dúvidas sobre as possibilidades de carreira.
“Acho que tudo isso, de certo modo, me preparou para enfrentar a vida em outro país. Foi essencial passar pelo mestrado no Brasil, construir estabilidade e maturidade para depois ter responsabilidade e independência suficientes para tomar minhas próprias decisões em outro lugar”, disse.
No último ano da graduação, Lorraine começou a pesquisar além da música clássica e viu a chance de seguir carreira acadêmica. Prestou o mestrado da Unesp, conquistou bolsa da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e deu continuidade aos estudos. Nesse período, conciliou as pesquisas com apresentações de piano e conseguiu se manter em São Paulo.
*Colaborou sob supervisão de Carla Monteiro
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