Quem eram os 2 mortos em guerra de facções em Costa Barros: 'Papai tá aonde?': perguntou filho de vítima ao avô
28/10/2025
(Foto: Reprodução) Dois moradores de Costa Barros morrem em tiroteio entre facções rivais
Na saída de um pagode, dentro da própria casa. A morte de dois moradores durante uma guerra de facções no Complexo da Pedreira, em Costa Barros, na Zona Norte, destriu duas famílias que, como muitas no Rio, são obrigadas a conviver com a violência.
A guerra entre traficantes do Comando Vermelho (CV) e do Terceiro Comando Puro (TCP) invadiu o lar de Marli Macedo dos Santos, de 60 anos, baleada na cabeça na frente do irmão.
Em meio a uma caçada a criminosos rivais, a casa dela foi fuzilada e ficou com dezenas de tiros pelas paredes e móveis. Até granadas explodiram dentro do imóvel.
Marli Macedo dos Santos e Elison Nascimento Vasconcelos
Reprodução/TV Globo
Marli chegou a ser levada para o Hospital Municipal Albert Schweitzer, mas não resistiu. Deixou três filhos e três netos.
A sobrinha Ana Paula Valentim disse que a família não pode sair da comunidade, apesar dos tiroteios constantes:
"Parecia filme. A gente só vê essas coisas nos filmes. Mas a gente não tem condições de sair da comunidade, vai sair da comunidade para onde? Temos que continuar lá e orarmos a Deus para que ninguém mais seja vítima", afirmou.
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"A gente acha que nunca vai ser na nossa família, a gente olha na televisão e fala isso vai ser lá longe, mas isso está na nossa porta. É um momento muito duro que a gente tem passado, para toda família", afirmou Rosângela, outra sobrinha de Marli.
Elisson deixa filho de 7 anos
Em outro ponto do Complexo da Pedreira, Elisson Nascimento Vasconcelos, de 33 anos, foi atingido no peito quando saía de um pagode.
Ele foi levado para o Hospital Municipal Francisco da Silva Telles, onde morreu. Elisson deixou um filho de 7 anos.
"Fica muito comigo o filho dele. O filho dele fica: 'papai tá aonde?' O que eu vou dizer? O que eu vou dizer?", disse, muito emocionado, o pai de Elisson, Edson Vasconcelos Brum.
"Meu filho trabalhava em dois lugares, na empresa e no dia de folga ele trabalhava com o aplicativo. Está uma guerra incessante!"
Tentativa de invasão
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Segundo a PM, traficantes do Comando Vermelho (CV) tentaram tomar, a partir do Complexo do Chapadão, o Complexo da Pedreira, sob domínio do Terceiro Comando Puro. O TCP revidou a tiros, e os homens do CV recuaram.
Na fuga, 2 criminosos do CV ficaram encurralados pelo TCP e invadiram uma residência. Homens do TCP cercaram esse imóvel, e houve novo tiroteio — até granadas foram atiradas.
Após a tentativa de invasão, a Polícia Militar realizou uma operação no Complexo do Chapadão. Dois suspeitos morreram durante os confrontos.
Sete fuzis foram apreendidos, e outros quatro homens foram presos. Segundo a Prefeitura, 22 escolas e três unidades de saúde não abriram hoje na região.
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Casa de Marli Macedo dos Santos
Reprodução
Mais mortes
A PM foi chamada para conter o conflito, e 2 suspeitos acabaram mortos, e outros 3, presos — entre eles, o homem que invadiu a casa de Marli. Os agentes ainda apreenderam 7 fuzis e encontraram 6 carros que haviam sido roubados.
Durante o confronto, clientes e funcionários de um comércio da região precisaram se abrigar na cozinha e no banheiro do estabelecimento. Uma caixa d’água foi atingida por disparos. Ninguém se feriu.
Enquanto fugiam da Pedreira, bandidos roubaram o carro de um grupo de pagode que vinha de um show. No confronto dos criminosos com a polícia, o veículo foi atingido por vários tiros.
“Muito complicado você ser abordado com arma no seu rosto, ter seu veículo roubado, sem saber se você vai conseguir chegar em casa. Não tem explicação”, contou o motorista.
“Falaram que queriam o veículo e que depois a gente podia recuperá-lo, que eles iam abandonar. Deixamos tudo para trás, instrumentos, telefones, tudo”, narrou.
Reabertura de UPA e equipe acuada
UPA de Costa Barros, na Zona Norte do Rio
Reprodução/TV Globo
Nesta segunda, após quase 1 mês, a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) reabriu a Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Costa Barros, que havia sido fechada em 30 de setembro após ser invadida por criminosos.
A Polícia Militar informou que determinou a ocupação por tempo indeterminado na região e que mantém contato com instituições públicas para garantir a continuidade dos serviços de saúde à população.
Há 1 mês, 2 pacientes foram agredidos e levados por traficantes, mas liberados pouco depois. A suspeita é que tenha havido um engano.